O Galinho Preto – Parte 2

No último post, o nosso pequeno herói estava sozinho e havia acabado de anoitecer. Vamos ver a continuação?

Estava tão só e com tanto frio que o Galinho Preto começou a tremer, sem saber se era de medo ou de frio. Viu, então, um campo enorme cheio de lanterninhas acesas. “Vou lá pra me aquecer…” pensou. E mais que depressa desceu para o campo. Quando chegou perto, ouviu o choro das lanterninhas e uma vozinha falando:

– Nós éramos quinhentos vaga-lumes felizes, agora somos só trezentos. O sapo vai acabar com a nossa raça.

– Não chore, que eu ensino esse sapo!

E o Galinho Preto ficou prestando atenção. Quando o sapo abriu a boca para engolir outro vaga-lume, o Galinho Preto jogou uma pedrinha na garganta do malvado.

– Ai, ai ai!!! Vou morrer sufocado! – Gritou o sapo, fugindo em pulos curtos.

Os vaga-lumes riram muito e ficaram a noite toda iluminando e aquecendo o toco de pau que o Galinho Foi dormir. De manhã, eles ficaram muito tristes por não poderem fazer nada por ele.

– Quem sabe? – Disse o galinho, já caminhando.

– Ficaremos na esperança! Adeus! – disseram os vaga-lumes.

– Adeus, sejam felizes!

O Galinho Preto abanou as asas e continuou com sua viagem. Andou, andou, andou até que chegou a uma cidade. Era a cidade mais importante da república dos bichos. Lá morava o presidente, que por esse tempo era o Elefante, com todos seus ministros.

– Aqui eu vou ser grande entre os grandes. – Disse o galinho batendo asas e cantando com todas as forças.

Os bichos pararam para vê-lo passar, de peito estufado, olhar vibrante e porte marcial.

– Como é bonito e elegante, esse Galinho Preto! – disse Dona Serra-Serra, jacaré fêmea que estava tomando sol à beira do rio.

– E que olhar atrevido que ele tem! – comentou a Garça.

O Galinho Preto foi ao lago se lavar, lustrou as penas e foi procurar uma pensão na cidade para morar, mas, quando chegou ao centro da cidade, ele se alarmou com a notícia que a Vila do Riacho se revoltou e estava marchando em direção à cidade para ocupá-la e depor seu presidente.

– Que horror! – gritava dona Gorda, uma porca.

– É a guerra! É a guerra! – esganiçava o Dr. Fala-Fala, um papagaio que, como muitos outros bichos, quando aprendia uma coisa só falava nela até cansar.

– E é guerra civil, que é a pior das guerras. – ajuntou o Burro com voz mansa.

– A culpa é do Elefante, que não tem pulso! – afirmou o Ganso.

– Quando eu dizia que ele n ão servia para a presidência… – insinuou, cheia de reticências, a Perereca, que tinha sido a mais forte rival do Elefante na campanha presidencial.

mas o fato é que era preciso agir e todos os bichos começaram a se mover. O javali afiava as presas; os cxaranguejos abriam e fechavam as pinças, exercitando-se; o Tigre afiava as unhas; a Zebra dava coices tremendos no ar.

– Nós vamos vencer! – dizia um.

– Esses revolucionários não aguentam muito tempo! – emendava outro.

– São uns bobões! – ajuntava um terceiro.

E a tartaruga, que ninguém sabia por que participava da guerra, andava como louca de um lado pro outro, providenciando a defesa da cidade.

O Galinho preto correu ao palácio presidencial.

– Senhor presidente, eu quero ser o vosso general!

– Não. – respondeu o Elefante, trombudíssimo.

O Galinho Preto começou a gritar e fez um barulho tão grande que tiveram que mandar o tenente Cachorro prendê-lo.

Pelo caminho, o Galinho Preto fazia um escarcéu. Os bichos paravam e ele gritava:

– Se eu não for o comandante das tropas, esta cidade estará perdida! Vai ser uma desgraça como nunca se viu!

Os bichos todos riam, mas de tanto que ele gritava uns começaram a acreditar.

Depois se soube que os revolucionários tinham avançado decididamente, que a cidade estava cercada por eles, que não entrava mais nada por nenhuma das portas e que seus habitantes iriam morrer de fome se não se rendessem.

– Render é que não. Nunca! – gritaram todos heroicamente.

Mas, assustados, correram para a porta do palácio e pedram para que o presidente soltasse o Galinho Preto.

O presidente, com medo da confusão, soltou o Galinho Preto e nomeou-o comandante chefe das tropas legais.

Assim que se viu livre, o Galinho Preto subiu nas muralhas e começou a cantar com a maior força possível. Ouvindo o canto triunfante do Galinho Preto, os soldados legais, que estavam cedendo terreno, pensaram que a batalha estava ganha e começaram a avançar com um entusiasmo jamais visto em guerra nenhuma. Pelo lado esquerdo avançava a legião dos javalis; pelo direito a coluna dos caititus; pelo centro, mordendo com todos os dentes, atacava o amedrontador pelotão dos jacarés, protegidos na retaguarda pelos caranguejos. E do alto da muralha o Galinho Preto cantava, cantava, cantava!

– A vitória é nossa!

E os revolucionários fugiam, apavorados.

Depois que a vitória foi completa, houve quem dissesse que os revolucionários fugiram porque milhares de formigas subiram pelas pernas deles, mordendo sem dó nem piedade. Outros garantiram que eles debandaram de medo: uma luz enorme, feita de milhões de vaga-lumes, apareceu-lhes na frente e eles pensaram que fosse um pedaço do Sol que tinha caído na terra. Outros, ainda, que foi um enxame de abelhas que caiu sobre eles como uma maldição. Mas nada disso ficou apurado. Boatos…

À noite, a cidade era outra. Os bichos contentes cantavam. Orquestras de passarinhos andavam pelas ruas e os ursos e as borboletas dançavam juntos como malucos. No palácio houve um baile. O Galinho queria falar com o presidente e ele perguntou o que ele queria.

– Eu quero, senhor presidente, que o senhor mande dois carros a uma vilazinha que há do outro lado daquela grande montanha e tragam para cá, com todas as honras, dona Arrepiada e dona Branquinha. Uma em cada carro.

Como ele pediu, assim foi feito. Toda a sociedade estava reunida quando chegaram as duas carruagens ao mesmo tempo.

– Meu filho!… Meu querido filho!… – gritaram as duas galinhas, correndo para abraçar o general.

– Alto lá! – bradou o Galinho preto. – Mandei buscá-las pra terem a certeza de que na vida não se deve desprezar ninguém. A senhora, e dirigia-se para dona Arrepiada, não é minha mãe porque me abandonou no ninho de outra, e a senhora também não é – falava para dona branquinha – porque, assim que viu que eu era diferente, não teve um coração bastante generoso pra me perdoar. Por isso, passem daqui!…

A bicharada começou a gritar e deu uma grande vaia nas duas galinhas, que saíram crrendo envergonhadas, e tiveram que voltar a pé, cansadas e morrendo de fome.

O Galinho Preto não foi presidente, mas disso se consolou depressa, pensando que, afinal, presidente da república é um rei à prestações. Em compensação foi nomeado interventor na Vila do Riacho, onde fez um governo magnífico, o que lhe valeu o posto de marechal.

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