Conto: O Galinho Preto. (Por Marques Rebelo) – Parte 1

Nota da Autora: Esse conto fala sobre a superação de um galinho que sofreu vários tipos de preconceitos desde seu nascimento. Fala também sobre a perseverança sobre as coisas ruins e a forma de encará-las, sempre tentando seu melhor. Fala sobre a cooperação, favor, amizade.

Pais, leiam para seus filhos, para si. Aprendam e ensinem e tirem o máximo de proveito.

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Quando os ovos de Dona Branquinha arrebentaram, ela contou dez pintinhos brancos e um preto.

– Que coisa!… Esse pintinho com certeza não é meu… Quem sabe não é de Dona Arrepiada? – disse Dona Branquinha lançando um olhar duro e desconfiado para a galinha preta que não chocava nunca e era sua maior inimiga.- Positivamente, esse pintinho não é meu filho!…

Se ela pensou assim, na criação dos pintinhos quem sofreu foi o preto.

Não lhe dava migalhas, nem minhocas, tudo que era bom era para os outros. Uma vez quase o afogou no poço, e quando todos se acolhiam sob suas asas quantes e agasalhantes, ele – coitado!- era origado a refugiar-se debaixo de um velho telhado, tremendo de frio.

Pobre pintinho preto!…

Criado à toa, sem carinho, sem cuidado, sob bicadas frequentes e injustas, nem por isso se tornou agressivo e violento. Tinha o coração terno e sensível e não se pode mudar a natureza.

Um dia, subiu num monte de lixo e viu o mundo todo, porque o mundo para ele era aquele pedaço de terra que seus olhos podiam ver. Sentiu uma cócega na garganta, pensou que ia chorar, fez um esforço e… cantou estridente e fanhoso, mas cantou de galo pela primeira vez.

– Ah! – fez ele – hei de conquistar a glória, hei de ser um grande general ou presidente da república dos bichos – (porque, quando isso aconteceu, o rei Leão não era mais rei e vivia num exílio. Numa jaula de jardim zoológico). – Hei de conquistar o mundo!… – disse, olhando vaidoso, com seus olhos redondos, de cima do lixo, para o pequeno horizonte que podia descortinar. – Hei de ser um grande entre os grandes!

Dizendo isso, o Galinho Preto desceu pelo monte de lixo e seguiu para a floresta, deixando para trás aquela vida mesquinha de Dona Arrepiada – mãe sem coração – e de Dona Branquinha – a mãe que não quis ser mãe.

Andou, andou, andou, até que, cansado, sentou-se à sombra de um tamarineiro e logo uma formiguinha veio falar com ele.

– Onde é que você ai, Galinho preto?

– Ora, Dona Formiguinha, vou andar pelo mundo, vou ser um grande general ou o presidente da república dos bichos.

– Quem tem ambições honestas quando é novo, dorme bem de noite, pois tem a consciência tranquila. – fez sentenciosamente a formiguinha.

– Eu sou assim – disse o Galinho Preto. – Quero vencer.

– Querer é metade da vitória!

Nisto, o Galinho Preto deu um pulo e bateu num Tico-Tico, que voou assustado.

– Ah, Dona Formiguinha, se eu não fosse tão ligeiro ele a teria engolido!

– Ai de mim – suspirou a formiguinha – Devo-lhe a vida e nunca poderei pagar. Sou um pobre bichinho sem importância!

– Quem sabe, Dona Formiguinha?! O mundo dá tantas voltas!

– Queira Deus que um dia eu possa ser útil para você. Mas adeus, seu Galinho Preto! Já estou demorando demais!

E assim dizendo, a formiguinha desapareceu, com medo de outros Tico- Ticos.

O Galinho Preto continuou seu caminho. Andou, andou, andou, até que chegou num arrozal e começou a ciscar uns grãozinhos do chão.

Avançou no meio do brejo, escolhendo um lugar seguro para pisar, até que descobriu uma abelha que se afogava.

Fez uma proeza arriscada para se aproximar dela e disse:

– Segure firme no meu esporão – e esticou a perninha – Segure, depressa!

A abelha agarrou-se com todas as forças que tinha e saiu da água.

– Graças a você, Galinho Preto, não fui para o fundo do brejo. Nem que eu viva mil anos, poderei recompensar. Jamais me esquecerei! Tomara que um dia eu possa retribuir do mesmo jeito.

– Quem sabe?

– Adeus! – Fez a abelha voando.

– Adeus! – Fez o galinho, pondo-se de volta no caminho.

Andou, andou, andou, até que a Lua apareceu no céu e deixou a terra escura.

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